Judeus no mundo
BRASIL
A História da comunidade judaica no Brasil começa antes mesmo da descoberta do país. Em 1492, mesmo ano em que os reis católicos, Fernando e Isabel, terminaram a Reconquista, conquistando o Reino de Granada e definitivamente expulsando os mouros da Península Ibérica, foi emitido um decreto obrigando todos os judeus a se converterem ou deixarem a Espanha em um prazo de três meses, levando seus bens, à exceção de metais preciosos, o que dificultava muito a vida daqueles que emigrassem.
O rei de Portugal dispôs-se a admitir os judeus em suas terras temporariamente. Os muito ricos, que puderam comprar sua admissão permanente e os artesãos, que encontraram utilidade nas manufaturas de munições de guerra puderam permanecer indefinidamente em Portugal. Os mais pobres puderam ficar, se pagassem uma soma, mas ainda assim, por pouco tempo.
Três anos depois, em 1495, ascendeu um novo rei ao trono. Manuel I desejava casar-se com uma filha de Fernando e Isabel, para, possivelmente, herdar os territórios aos quais ela tinha direito. Os reis da Espanha consentiram no casamento, desde que Manuel expulsasse os judeus de seu país. Como ele considerava os judeus importantes para o país, tentou converter todos à força, objetivo este que foi, em grande parte, atingido.
Isso se deu em 1497 e logo depois se instaurou a Inquisição em Portugal, pois muitos convertidos continuavam praticando o judaísmo em segredo. Isso criou um ambiente propício para que muitos marranos quisessem vir para o Brasil. Aqui, ficavam longe da Inquisição e da Coroa e tinham maior facilidade de praticar suas crenças.
Muitos cristãos-novos vieram para o Brasil, exercendo as mais variadas profissões. Em 1624, perfaziam uma porcentagem significante dos 50 mil europeus que aqui viviam. Neste mesmo ano, houve a primeira invasão holandesa. A segunda, mais duradoura (1630-1654), influenciou muito a vida judaica em Pernambuco, onde se instalaram os holandeses. Com uma política de boa vizinhança, eles deram liberdade de culto a todos e os judeus construíram, em 1636, a primeira sinagoga das Américas, chamada Kahal Zur. A comunidade floresceu e tornou-se organizada. Dois judeus de Amsterdã vieram para atuar como líderes espirituais da comunidade.
Com a expulsão dos holandeses do Brasil, muitos dos que ali estavam acompanharam os europeus em direção às Antilhas e muitos foram para a América do Norte, onde fundaram Nova Amsterdã, futura Nova York.
Houve um pouco de perseguição aos judeus quando Pernambuco voltou a ser propriedade portuguesa, o que fez com que eles deixassem o comércio açucareiro e se refugiassem no interior. Em 1655, a sinagoga Kahal Zur foi fechada¹.
A situação permaneceu inalterada até 1773, quando um decreto real português aboliu a discriminação contra os judeus. Lentamente, judeus começaram a reentrar no Brasil. Quando foi declarada a Independência, em 1822, um fluxo de judeus marroquinos estabeleceu-se, construindo sinagogas em Belém e Manaus.
Outro ponto importante da história judaica no Brasil é a colonização agrícola levada a cabo pela ICA (Jewish Colonization Association). Criada por Maurice de Hirsch em 1891, com o intuito de criar colônias agrícolas fora da Europa, para onde judeus pobres e/ou perseguidos pudessem emigrar e atingir uma qualidade de vida melhor. No Brasil, as colônias restringiram-se ao Rio Grande do Sul (Quatro Irmão, Santa Maira...) e tiveram pouco sucesso como empreendimento agrícola, devido à falta de experiência dos imigrantes europeus, vindos principalmente da Europa Oriental, ao êxodo rural (muitos imigrantes deixaram suas terras e foram para as cidades grandes), falta de fundos e de planejamento eficiente.
No entanto, o objetivo humanitário da obra do Barão Hirsch foi alcançado, pois a comunidade judaica conseguiu se estruturar e se mantém até hoje. Em 1922 foi aberta uma escola, que vem funcionando desde então, o Colégio Israelita Brasileiro.
Neste tempo, vieram também judeus para as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, em maior número. Nos anos 20, quase 30.000 judeus entraram no país, vindos da Europa. O Brasil tomara, entre 1870 e 1920, medidas para trazer imigrantes ao país, para que trabalhassem nas lavouras de café e nas fábricas e para substituir o trabalho escravo pelo trabalho assalariado. Com isso, entraram no Brasil 5 milhões e meio de imigrantes.
Em 1930, depois da quebra da Bolsa de Nova York e com a subida de Getúlio Vargas ao poder, adotaram-se políticas rígidas contra a imigração, mas muitos judeus entraram ilegalmente no Brasil, a maioria fugindo do nazismo na Europa. Em 1938, houve uma tentativa de assimilar os judeus, seguida por uma onda de anti-semitismo, realizada principalmente pela Ação Integralista Brasileira, movimento fascista inspirado em líderes como Hitler e Mussolini. Em 1945, com a queda de Getúlio, e a derrota do Eixo na Segunda Guerra Mundial, a situação melhorou e as atividades judaicas organizadas reiniciaram-se.
Em 1947, o Brasil votou a favor da partilha da Palestina, numa seção da ONU presidida por Oswaldo Aranha, reconhecendo Israel em 1949, e abrindo uma embaixada em 1952. Em 1959, Israel e Brasil assinaram o primeiro de vários acordos de cooperação em áreas como cultura, comércio, indústria e ciência.
No fim dos anos 50, uma onda de imigração trouxe mais de 3.500 judeus do norte da África para o Brasil. Os judeus do Brasil estavam muito bem e não foram alvo de racismo pelo golpe militar de 1964, salvo pequenas atividades anti-semitas feitas pela organização católica de direita Tradição, Família e Propriedade.
Hoje em dia, os judeus vivem muito bem no Brasil, tendo sido aceitos muito bem no país. Diversas organizações existem, de movimentos juvenis a institutos ligados a universidades. As comunidades estão cuidadosas desde o atentado à bomba à sede da AMIA, em 1994, organização central da comunidade judaica da Argentina, localizada em Buenos Aires, mas somente alguns pequenos atos isolados de anti-semitismo ocorreram.
A comunidade judaica no Brasil conta agora com aproximadamente 95.000 judeus, concentrados principalmente em Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
1. Em 2002, com a ajuda do Banco Safra a sinagoga Kahal Zur foi restaurada e agora realizará alguns serviços religiosos e abrigará um instituto de cultura judaica.
Fonte: Jewish Virtual Library, 2004